Reflexões sobre a retirada das fraldas
”Antes que as crianças possam controlar sua eliminação, elas têm que aprender muitas coisas. Têm de saber o que se espera delas - que há uma ocasião e lugar apropriado para eliminar. Têm de familiarizar-se com as sensações que indicam a necessidade de eliminar e têm de aprender a controlar seus esfíncteres a fim de inibir a eliminação e descontraí-los para permitir que ela se efetue".
O mundo da criança - Diane E. Papalia, Sally W.Olds.
Sabemos que este é um momento muito esperado pela família e este processo pode ser tratado tranqüilamente, se tivermos a certeza de que a criança já está preparada para viver este desafio.
Para isso é preciso que a família e as professoras tenham a preocupação de acompanhar de forma muito próxima e individualizada, cada criança de sua turma para que a conquista deste desafio se dê de forma tranqüila e prazerosa.
Vale ressaltar que este processo acontece de forma lenta e gradativa e que não devemos ter a intenção de antecipá-lo, pois na maioria dos casos, uma criança adquire maturidade neurológica para desfralde, por volta dos dois anos de idade.
É muito comum que este interesse parta da própria criança, tanto na escola quanto em casa, ao observar que adultos e crianças mais velhas usam o banheiro e não fraldas.
Nas turminhas do Sementinha 2 já temos crianças que não utilizam mais fraldas e as demais, ao acompanharem seus amiguinhos ao banheiro, observam suas ações e começam a se interessar por elas.
Aproveitar todas as evidências que as crianças nos dão, mostrando seu interesse neste aspecto é uma ótima introdução ao processo de desfralde.
Vale acrescentar ainda que para a criança, estar sem fralda tem uma série de representações que muitas vezes passam despercebidas aos adultos. Uma delas, de grande relevância, é que o desfralde pode significar para a criança uma primeira aproximação ao mundo dos adultos, ou seja, evidencia que está crescendo, assumindo responsabilidades, mudando de papel na família e na sociedade, ou seja, está deixando de ser bebê!
Entender o desfralde deste ponto de vista nos ajuda a olhar com mais cuidado às crianças, compreendendo melhor aquilo que tentam nos dizer através da fala, gestos e emoções.
Em alguns casos, por mais que a criança esteja preparada neurologicamente, pode ainda não estar preparada emocionalmente. Pensemos no caso de uma criança que acabou de ganhar um irmãozinho; é muito provável que este processo, neste momento, seja muito ameaçador – a criança sente medo já que está vivendo fortemente uma reestruturação de papéis na família com a chegada de alguém com quem terá que dividir as atenções e isso poderá dificultar a introdução deste novo hábito em sua rotina.
Por estas razões é que precisamos ter um olhar cuidadoso e individualizado para cada criança. Conhecendo e acompanhando seus hábitos, sua rotina e seus progressos, poderão então sugerir para que este processo tenha início.
Ao constatarmos que a criança já está preparada para iniciar o desfralde, devemos convidar os pais para uma conversa no sentido de trocar impressões e informações, bem como fazer combinados quanto a participação da família e da escola nesta fase, com o objetivo de garantir a tranqüilidade necessária dos adultos e, conseqüentemente, o bem-estar da criança.
Para pensar:
Vários sinais indicam o momento certo de iniciarmos a retirada das fraldas:
Vários sinais indicam o momento certo de iniciarmos a retirada das fraldas:
ü Quando a criança avisa antecipadamente que quer fazer cocô ou xixi.
ü Pede ou tenta tirar a fralda quando sente vontade de evacuar.
ü Quando começa a ter horário para evacuar.
ü Quando pede para usar o vaso sanitário e explica a razão para uso.
ü Amanhece vários dias com a fralda seca.
Estando família e escola em comum acordo de que a criança está no momento certo de iniciar a retirada da fralda, os procedimentos a serem seguidos também deverão ser iguais.
Vejamos quais são:
ü Estabelecer a rotina, sem colocar as fraldas durante o dia.
ü Propor alguns horários na rotina, para oferecer à criança o vaso, porém sem rigidez, pois a criança irá cada vez mais, percebendo suas necessidades e solicitando a ajuda do adulto.
ü Ao sentarmos a criança no vaso, devemos ficar atentos para que ela fique confortável e por pouco tempo (no máximo por cinco minutos) a fim de evitarmos que ela se canse. Neste primeiro momento, recomendamos a utilização de um adaptador de vaso sanitário ou de um vaso sanitário de tamanho apropriado às crianças.
ü Devemos ter paciência, não estabelecer prazos e saber que o começo é lento e retrocessos ocorrerão.
ü Não devemos criticar a criança por não ter conseguido segurar o xixi ou o cocô, assim como não devemos compará-la com outras crianças. Os acidentes são inevitáveis e fazem parte do aprendizado. Não repreenda a criança em caso de pequenos esquecimentos. Nesses momentos, a criança tem necessidade de encorajamento. É muito importante que esta fase da vida da criança não seja tratada como um problema e sim como um progresso.
ü Todas as vezes que a criança conseguir usar o vaso, não devemos premiá-la, e sim fazer elogios, para que ela se anime e tente novos progressos.
ü A criança precisa aprender a controlar os esfíncteres e não devemos confundi-la, ora deixando-a com fralda, ora sem fralda. Assim que tirarmos as fraldas, não devemos colocá-las mais.
ü Algumas famílias fazem a opção de, a princípio, não retirar a fralda noturna. Nestes casos, vale lembrar que a fralda noturna deverá ser colocada bem próximo ao horário de sono da criança, explicando-lhe que assim que ela despertar, a fralda será substituída pela cueca/calcinha novamente. Em geral, depois que é introduzido o hábito durante o dia, a criança aprende espontaneamente a reter a urina enquanto dorme.
ü No período de desfralde é preciso que as famílias enviem para a escola duas a três trocas completas de roupa, incluindo meia, cuecas/calcinhas e sapatos.
Temos algumas ressalvas em relação ao uso do penico, considerando questões de higiene e de cultura uma vez que em espaços públicos as crianças não encontram este instrumento. De qualquer forma, para aqueles que acham importante oferecer à criança o uso do penico vale ressaltar que:
ü É importante que o penico tenha estabilidade, evitando que a criança se desequilibre.
ü A criança apóie seus pés no chão e sinta-se segura.
ü O modelo seja tradicional, evitando-se os modelos engraçadinhos (em forma de tartaruga, automóvel ou musical), pois penico não é brinquedo.
ü Fique sempre no banheiro, na maneira acessível, para que possa ser encontrado sem a ajuda de adulto.
Durante esta fase da infância, é muito importante que as crianças tenham a possibilidade de brincar com argila, massinha, água, elementos lúdicos que remetem á questão do xixi e do cocô e que contribuem na elaboração deste processo.
Sugerimos também que as crianças tenham acesso a livros e DVD que apresentam este tema de maneira interessante, tais como:
· Da pequena topeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela – Werner e Wolf - Companhia das Letrinhas
· Cocô no trono – Benoit Charlat - Companhia das Letrinhas
· A história do cocô – Turma do Cocoricó - DVD 06
Estaremos observando cada criança e caso surjam dúvidas sobre este tema, coloco-me à disposição.
Ana Clara Bretos Lima
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