quarta-feira, 4 de março de 2009

Delírio, ou nem tanto delírio assim... Uma questão de princípio

Hoje li uma crônica que chamou a minha atenção.

O autor contava sobre uma palestra que fez para um púbico mais velho onde que começou seu discurso comentando o fato de todos ali estarem numa fase da vida em que não precisavam mais ser úteis.

Comoção geral. Tumulto. Todos falavam ao mesmo tempo. Uns diziam que cuidavam do jardim, outros que faziam colchas de retalhos e por aí adiante. Todos se sentiram insultados.

Pouco depois, acalmados os ânimos, o autor palestrante continuou. A reação era esperada. Ele havia instigado a platéia de propósito. Sabia muito bem o lugar que queria chegar. Foi então que comparou a utilidade de uma vassoura à inutilidade da Sinfonia de Bethoven e perguntou como todos gostariam de ser lembrados.

Aos poucos, sorrisos começaram a brotar. Todos entenderam a poesia da comparação e saíram de lá mais felizes.

Resolvi escrever este texto porque, por coincidência, ontem encontrei uma amiga no supermercado que me disse que estava se sentindo um pouco inútil exercendo "apenas"o papel de mulher e mãe. É incrível a quantidade de culpa que acumulamos ao longo da vida. Estamos sempre nos sentindo em dívida com alguém ou com alguma coisa. Muitas vezes, conosco.

Sou mãe e desde que mudei para São Paulo há 4 anos, não trabalho fora. Sou advogada mas não exerço a profissão. Cuido da minhas filhas e, nas horas vagas, escrevo, o que amo fazer.

É engraçado mas existe um preconceito enorme em relação às mulheres que não trabalham fora. Alguns nos chamam de "dondocas", mesmo aqueles que nunca nos dirigiram a palavra.Outros nos acham "incompetentes" e, por fim, é claro, tem os que nos acham inúteis. Ninguém saber se somos formadas, pós graduadas, o motivo pelo qual não trabalhamos nem quantas linguas falamos. Puro preconceito na sua forma mais simples.

Esse estigma paira sobre nós, mulheres que não trabalham fora, como um fantasma. Será que estamos perdendo um tempo precioso e que depois estaremos "velhas" para voltar ao mercado de trabalho? Será que algum dia vamos voltar a trabalhar? E se ninguém nos der emprego? Quantas de nós não gastou verdadeiras fábulas discutindo essas questões com analistas? E, pior, quantas não perderam valioso tempo com os filhos por estarem angustiadas demais?

Digo isso porque já me senti assim. Na verdade várias vezes.

Mas são situações como a que vivenciei hoje que me dão tranquilidade de continuar o "trabalho em casa" que tenho feito.

Minha filha de 6 anos chegou da escola contando que "se tirou" do clubinho que fazia parte porque "as sócias" decidiram que nenhuma das integrantes poderia brincar com determinada menina. Ela disse que gostava muito da tal amiga e que se para fazer parte do tal clubinho não poderia brincar com quem bem entendesse, preferia ficar de fora.

Fiquei orgulhosa da sua atitude corajosa. Ela não se intimidou com a ameaça. Foi sincera e coerente com seu pensamento. Achou injusto o sistema e saiu.

Quando ela acabou de contar a história me senti melhor do que quando recebia o contracheque no final do mês, na época em que eu trabalhava fora. Naquele momento me senti recompensada.

Hoje ela é uma criança de 6 anos. Amanhã será uma adulta com valores éticos e morais sólidos. Formar um adulto de caráter é um trabalho que não tem preço.

A verdade é que nós, mães, trabalhando fora ou não somos parte importante no processo de formação de nossos filhos. O nosso papel ninguém pode desempanhar. É indelegável. Devemos procurar ser tão competentes como mães como procuramos ser como profissionais. E que cada uma de nós, a sua maneira, faça o seu melhor. Assim estaremos contribuindo - e muito- para um mundo melhor!

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